sábado, abril 14, 2007

As Linhas das Tuas Mãos


Gosto do desenho das tuas mãos longas de dedos finos e compridos, que revelam teus ossos e a brancura da tua pele; mãos que, vez ou outra, imagino sobre mim pesquisando cada milímetro do meu corpo em movimentos firmes e curiosos. Gosto de observá-las enquanto discursas sobre algo que te incomoda, como se tuas mãos fossem guias para tuas idéias, pois gesticulas e as movimenta de modo enfático, de modo que sobre ti recaia a imagem da certeza. Gosto de ver tuas mãos enquanto retocam a pintura sobre o teu rosto, pesquisando delicadamente a pele em torno dos olhos, a boca, as faces, como se elas tivessem o dom da transubstanciação, o dom do ourives ou alguma alquimia obscena. Gosto das tuas mãos em meus cabelos quando, num ato de cuidado incestuoso, resolve você me enxugar após o banho. E tuas mãos vão e vêm e vêm e vão em investidas sobre a minha pele, sobre a base dos meus cabelos, os pêlos do meu peito; vêm e vão, lentas e firmes, com unhas capazes de cócegas e arranhões. E gosto de sentí-las no afã de rasgar a minha carne e no desejo de me tomar como seu.

Gosto das tuas mãos quando me dominas.

Gosto das tuas mãos quando as sinto sobre minhas costas, pernas e nádegas, enquanto simplesmente fodemos de um jeito que é só nosso, evitando ao máximo o momento do gozo e estendendo o quanto podemos o estorpor e a conjunção a que nos entregamos, onde você resume tudo com um simples "me fode". E gosto das tuas mãos enquanto elas me arranham-roçam-sangram-curtem-descobrem-me dividem em tantos pedaços quanto se divide o que sentimos. Gosto das tuas mãos quando agarram minha cabeça enquanto descubro teus gozos e roço minha barba rala nas tuas coxas. Tuas mãos quando as vejo apoiar-se na parede enquanto me ofereces a visão magnífica das tuas costas ou quando, deitada de bruços, tomas minhas mãos para que te alisem seios-nucas-penugens. Gosto das tuas mãos quando, no sofá do escritório, me enlaçam e apertam minha cabeça enquanto me devoras, olhando-me nos olhos.

Gosto das tuas mãos no depois, quando sôfrega se estendes sobre a cama, evocando um copo que compartilhamos ("foi o bastante, mas não o suficiente"), e quando me olhas de um modo terno e preguiçoso, porém ainda vivo. Ou quando me provocas com leves tapas de "E então? Não tem mais?" e, diante de uma resposta evasiva atacas indignada e divertida: "frouxo!". Gosto das tuas mãos quando resolvem, no interlúdio, explorar os meus pés. Tuas mãos quando, juntos num banho, me esfregas para limpar o que é teu.

Mas também gosto das tuas mãos antes, quando no prenúncio do que virá elas se apossam de meu caralho como se ele fosse um outro e travam com ele uma relação íntima de posse, usos e ludismos, enquanto disputam com a tua boca a primazia da presença do meu músculo. E apertas e chupas e brincas e me olhas de um jeito que guarda uma promessa e uma ilusão. A promessa do que virá e de que até terminarmos tudo será bom. A ilusão de que eu, meu caralho, meu corpo, somos os únicos em tua vida.

Gosto das tuas mãos quando me enganas.

Gosto das tuas mãos pelo cuidado com que tomas as coisas do mundo: a flor, o copo, o lápis, o jornal. Gosto das tuas mãos quando seguras um colar de miçangas; quando ajeitas a meia sob a saia; quando coças a nuca de um jeito que sempre me parece um convite; quando seguras uma cigarrilha ou quando brincas com meu pescoço enquanto dançamos um samba qualquer; quando tapas a vista diante de uma cena de violência ou terror; quando passas a tarde de um sábado desenhando com lápis de cera pequenos motivos coloridos. Gosto absurdamente das tuas mãos quando, antes de deitar, tiras os brincos, de um modo tão natural que parecem parte de ti. Gosto das tuas mãos quando me apontam algo.

Precisas ver tuas mãos quando seguram uma xícara: são de uma beleza ímpar.

Gosto das tuas mãos porque me acalmam. Excitam-me. Porque me assustam. Gosto das tuas mãos porque me fazem indefeso ao mesmo tempo que me oferecem um porto, uma rota à minha navegação.

Gosto das tuas mãos porque escrevem, nos mais das vezes com linhas tortas, um capítulo único no livro da minha vida.

Gosto das tuas mãos porque são tuas.

5 comentários:

Anônimo disse...

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nicole lima disse...

:)
clap clap clap
(som emitido quando minhas mãos se tocam e se deixam, sucessivamente, como a tangencia dos encontros e desencontros)

Anônimo disse...

gostei das tuas palavras.

Paralaxe disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Gostaria de ser ela.