domingo, abril 29, 2007

A Poesia e a Prosa

E sei que a poesia está para a prosa
Assim como amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
Caetano Veloso



Quando Luís roubou um beijo de sua nova amiga, ela tomou um susto. Ela já havia percebido que ele estava apaixonado. Mas Luís não era um homem aos olhos de Lenita. Não no sentido do que lhe apetecia. Lenita preferia homens mais velhos, que lhe davam uma sensação de segurança. Luís, na sua meninice, não lhe dava isto. Mas lhe dava algo mais caro: uma paz, um sentimento esquisito de sossego, algo quase familiar. Era como se ele tocasse um lado do seu coração interditado aos homens. O seu lado mais íntimo. Por isso mesmo, Lenita o empurrou e disse não.

Quando Clarice pensa no ex-marido, sente falta de muitas coisas, mas sobretudo dos amigos comuns que teve que abandonar quando se separaram. Alguns, mais amigos dele, ela os queria para si.

André negou o quanto pôde, mas um dia teve que admitir para si próprio que estava apaixonado por Lúcia, namorada de seu amigo de infância, Vinícius. André era o oposto de Vinícius. Onde este era palavra e extroversão, André era timidez e silêncio. Lúcia, às vezes, achava que André era gay, mas gostava de sua companhia. Quanto a Vinícius, na sua leveza, traía Lúcia sempre que podia e confidenciava tudo ao amigo.

Quando os dois se separaram, ela achou que poderiam ser amigos. Durante um tempo o procurou. Em vão. Ele se afastou dela como se sobre ela houvesse um tabu. Levou muito tempo para ela perceber que entre eles não havia possibilidade de uma relação que não fosse amorosa. Ela sofria em perceber que ele tinha virado a página e ela não.

Se Marco e Milena fossem amantes, as confidências tomariam a forma de corpo. Seriam sensíveis: teriam cheiro, suor e tato. Amantes, poderiam simplesmente silenciar ante a presença um do outro. Palavras não seriam suficientes para a confluência que buscavam.
Se Marco e Milena fossem amigos, as confidências seriam segredos falados, compartilhados. O corpo seria apenas uma promessa nunca realizada e tudo se resumiria num afago em forma de verbo.
A poesia ou a prosa? Nem Marco, nem Milena, tinham a resposta a esta pergunta.

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