segunda-feira, abril 13, 2009

A maçã e o elefante

“Homens, perdoem-no, pois Ele não sabe o que faz”
O Evangelho segundo Jesus.

Foram necessários mais de vinte tiros para liquidar o elefante. Um dos tiros foi dado dentro de sua orelha, arrebentando-lhe a cabeça a partir dos tímpanos. O elefante levou horas para morrer e enquanto agonizava, chegou a ver seus algozes serrando suas presas e mirando-o com temor, satisfação, sadismo e respeito. Enquanto os mirava, seus olhos repousaram sobre mim, um mero leitor sentado dentre de um ônibus em uma cidade de céu cinza. Seus olhos tinham o silêncio da morte inevitável; os meus tinham o grito histérico do desespero. Seus olhos tinham a secura da sabedoria, do ascetismo; meus olhos eram lágrimas de vícios e masturbações.

Tive ganas de descer do ônibus enquanto aquele elefante agonizava por páginas e páginas de um livro que, ironicamente, falava do paraíso.

P.S: à propósito, o elefante foi morto por Deus-pai, travestido de caçador.

2 comentários:

Anônimo disse...

Baita coisa. Profundo como um tiro... nas almas que penam nos ônibus cotidianos.

CtrlCultura disse...

sentimentos que dão força ao coração. É a letra da música que toca agora. São os mesmos sentimentos que tiram a força, porém travestidos de si mesmos. Ou não. Aliás, não importa, no final é tudo a mesma coisa...
Muito bom, parabéns³.