quinta-feira, janeiro 29, 2009

Antígona's Dark Shoes

... a estrada parece não ter fim enquanto aquela mulher carrega pela mão um homem cego de outroras lendas. fora um bravo, decifrara a charada dos homens e agora, ali, cego como veio ao mundo, era guiado pelas mãos de uma mulher. a estrada nunca teria fim, não porque faltasse um destino, mas porque ele jamais o veria.

para sempre ele seria guiado feito uma criança não pelo filho, mas pela filha. a ela caberia salvar o pai da escuridão sem fim de todos os caminhos. a voz do pai, uma vez a lei do mundo, agora era uma súplica pelo fim de uma estrada que jamais chegaria. e ele maldizia, xingava, ofendia, a filha que insistia naquele caminho.


porém aos olhos de Antígona nada disto era um fardo. estava ali, com seus sapatos negros e um velho vestido que antes vestira uma outra mulher que se matara pelo remorso de ter gerado a ela, Antígona; ali, guiando pela mão o único homem que amara e que se recusara a abandonar. outros homens passaram, mil vezes colhera o gozo alheio em suas faces, mil vezes quedara deitada em silêncio enquanto algum homem, crente de sua importância, lhe dizia: "estou indo". e seu silêncio significava "que bom que isto acabou". mil vezes teve mil homens. porém nenhum como ele, o pai, agora tornado filho. e a ela, somente a ela, caberia salvar o pai do silêncio de um caminho escuro.


e ela já não sabia mais se tomava seus braços como acolhimento ou se o tomava em seus braços e lhe oferecia os seios como salvação.


isto não importava. agora era ela e ele. a filha e o pai, tornados mãe e filho.

Um comentário:

marcelpaulo disse...
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