quinta-feira, março 01, 2007

Da Luxúria


Eis a luxúria. Confesso que este é o meu pecado predileto. Sejamos honestos: é na luxúria que sentimos o quanto humanos somos. Tanto que os gregos – juntos dos mineiros, inventores da nossa vã filosofia – atribuíam luxúria até aos seus deuses. É um pecado, digamos, divino.
Pois a luxúria é definida pelos prazeres. É um apego aos prazeres, sobretudo aqueles ligados ao corpo, à carne. Pensando bem, a luxúria é a mãe de cinco dos outros seis pecados capitais. Tomemos como exemplo um objeto de luxúria: a loira do 701, que hora ou outra passa sob minha janela trajando vestes..., como digo?..., generosas. Pois bem, alguém que tivesse este objeto de luxúria jamais sairia da cama: preguiça. Iria ao bar do Japa contar aos companheiros de balcão, “vocês não sabem quem eu faturei...”: soberba. Não iria deixar nenhum engraçadinho se aventurar: ira. Saberia de cor a conjugação (inclusive no futuro do subjuntivo) do verbo comer: gula. Não dividiria a moça com ninguém: avareza. O difícil seria sentir inveja de alguém. Taí! Talvez a inveja seja isto: falta de luxúria ou da loira do 701. Depende do ponto de vista.
O futebol é, por natureza, um esporte para os amantes da luxúria. Assistimos a uma partida de futebol na esperança de ter o prazer de um gol bonito, de uma jogada sublime, de um drible espetacular. Eduardo Galeano, torcedor do Nacional de Montevidéo, soltou a pérola: “o gol é o orgasmo da vida moderna”. Bem..., profundo isto... Não é em qualquer rabeira de caminhão que lemos esta frase, bela e de múltiplos sentidos. Há quem discorde. Mas, como dizem que o orgasmo é uma grande questão para as mulheres, aproveito a deixa para tentar exemplificar às leitoras, pouco entendidas no assunto (futebol, é bom que se frise...), o que seriam os vários tipos de gol. Estarei contribuindo, assim, para a cultura geral da sociedade brasileira.
Enfim, aquelas que têm orgasmos facilmente, poderão finalmente entender o que são os gols. Para aquelas que é mais fácil ver o que é um gol, poderão entender o que é um orgasmo. Vamos aos exemplos:

O gol comum

Esse é aquele orgasmo sem graça. Aquele que você tem, quando tem, naquelas transas de quarta à noite após a novela das oito ou naquelas transas de quarta à noite, no inverno, quando você se apresenta extremamente sensual naquele moleton velho, azul marinho, tamanho GGGGGG. É aquele orgasmo que você nem se lembra no dia seguinte. É mais ou menos como os gols de uma partida entre a Ferroviária de Araraquara e o XV de Jaú, numa quarta à noite, com chuva, pela décima primeira rodada do campeonato paulista da segunda divisão. Não passa nem no Globo Esporte. Ou seja, é melhor virar para o lado e dormir.

O gol roubado

Bem, aí depende. Se for um gol do seu time no principal rival, aos 48 do 2º tempo, numa semifinal de campeonato, o orgasmo será inesquecível. Seria como transar com o marido, com cara de Rodrigo Santoro, de uma conhecida de quem você não gosta. Mas se o gol for contra o seu time, seria como se seu marido dissesse o nome da conhecida enquanto transa com você. Pensando bem, nos dois casos, será um orgasmo inesquecível. Geralmente, um gol roubado causa muita confusão, briga, baixaria mesmo. Sempre termina com gente expulsa do jogo e indo pro chuveiro mais cedo. Mas, sem dúvida nenhuma, são lembrados para o resto da vida.

O gol de canela

Esse é aquele orgasmo que você não espera. De repente, vem. Acontece com freqüência. O jogo estava se arrastando, vinte minutos do primeiro tempo e nada, nem uma bola na trave, você e seu companheiro de partida sem muita inspiração, quando de repente acontece o gol de canela e daí o jogo pega fogo. No futebol, “gol de canela” é aquele gol sem querer. No caso do orgasmo, “gol de canela” é uma metáfora: pode ser um cotovelo que bate no olho, uma goteira sobre os jogadores, um palavrão em homenagem à mãe do juiz ou até mesmo um espirro. As possibilidades são infinitas. Um gol de canela exige oportunismo e atenção dos jogadores, embora eles não sejam capazes de repetir o feito. Mesmo assim, há jogadores que só fazem gol de canela. Jogar com eles pode não ser lá estas coisas, mas que um golzinho sempre sai, isto ninguém pode reclamar.

O gol sublime

Este gol é raro. E é para atingí-lo que todos praticam este esporte coletivo – cujo número de jogadores varia, podendo chegar a 80, dependendo das preferências (society, salão, gramado, areia) – chamado sexo. E por ser raro, este é aquele orgasmo realmente inesquecível. Mas a perfeição, a completude, o ato sublime desse orgasmo só é reservado para poucos. São os chamados craques. Ser um craque exige alguns atributos: visão de jogo, domínio da bola, rapidez de raciocínio, controle da velocidade, resistência e, segundo muitas mulheres, saber usar bem as mãos (mesmo não sendo goleiro). E tudo isto junto numa pessoa só, convenhamos, é difícil. Por isto é que os gols sublimes são os mais lembrados por toda vida. Inclusive, há uma tendência feminina para um certo saudosismo com relação a isto. Para muitas, gol sublime só o Marcão, aquele namorado do tempo de faculdade, sabia fazer. “Ele fazia gol até de nariz”, ouvi certa vez de uma torcedora mais animada.

Como se vê, há tantos gols quanto orgasmos. Aliás, posso dar um caráter científico a esse texto apresentando uma fórmula devidamente comprovada:

QO= 1/NGSTSMNC

onde, QO= qualidade do seu orgasmo;
NGSTSMNC= Número de Gols Sofridos pelo Time do Seu Marido Neste Campeonato

Pois é, cara leitora, antes de arranjar um namorado, marido, cacho, amante ou, simplesmente, um “homem pizza” (aquele que você liga e ele vem quentinho pra consumo), informe-se antes do time pelo o qual o rapaz torce e dê uma olhadinha na tabela no campeonato. Sua noite de luxúria poderá depender disto. Se o time tiver sofrido muitos gols, não desanime. Há um sempre um Marcão disponível por aí e que, provavelmente, para sua sorte, não dá a mínima para futebol...

6 comentários:

Anônimo disse...

i'm still speechless in all ways

mas o texto, os dois, sao ótimos. penso neles todos os dias de sol. e esse gol perfeito é mesmo uma desgraça.
:)

Anônimo disse...

Todos os pecados são prazeres... Mas, falando em gol:
o gol comum faz bem à saúde. apesar de pouco lembrarmos dele, sem ele só fica o empate (o embaraço, o estorvo). Comemora-se o gol comum com o sono,o virar-se e dormir, por quê não?!

Anônimo disse...

ahhhh confesso que não achei o texto luxurioso...

Anônimo disse...

hahahahahhaah!!!!!!!!

Anônimo disse...

e o gol olímpico, entra no rol dos balançares de redes?

Maikon Augusto Delgado disse...

Querido, bom demais da conta esse texto. Parabéns! Vamos ver se marcamos um pastel aí com o Rafa quando ele vier.

Aquele abraço.