sábado, setembro 29, 2007

A Aventura de um Leitor I

Começou por acaso. Uma tarde, uma livraria, a companhia de alguém querido. Eis, então, que esbarrou no livro. Uma edição diferente, que lhe chamou a atenção. O nome da obra favoreceu a primeira impressão. Tomou-o às mãos - textura da capa, das páginas, peso, cheiro (embora evitasse cheirá-los, por timidez, na livraria...) - e procurou alguma frase. Geralmente o fazia abrindo o livro a esmo. Mas desta vez, por alguma razão desconhecida, foi à contra-capa, e leu aquelas frases de efeito escritas, geralmente, por alguém que não leu o livro, mas que precisa vendê-lo.
Leu: "O amor é uma torrente contínua". Teve um sobressalto. Por um instante, pensou nisto. Será mesmo? Uma torrente contínua? Voltou os olhos ao texto e viu do que se tratava: uma história que lhe pareceu ligeiramente familiar. Pronto: estava desperta a sua curiosidade (fosse a história profundamente familiar, talvez o largasse no mesmo instante) e o livro cumprira sua função primeira. Fisgara-o como se prende uma criança a um brinquedo. Procurava uma resposta. Ele sempre procurava respostas para as suas indagações e, às vezes, se deparava com um livro que lhe dava a impressão de poder respondê-las. Na maioria da vezes, os livros apenas despertavam novas perguntas. Algumas vezes, porém, raras, é verdade, mas preciosas, um livro não somente lhe dava alguma resposta, mas a imagem de uma outra pessoa fazendo as mesmas perguntas. E esta era uma sensação, ao mesmo tempo, devastadora e reconfortante.

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