quarta-feira, julho 18, 2007

Clarice

Clarice fuma um cigarro lentamente sentada no parapeito da janela do seu apartamento localizado numa escura rua do Centro Clarice tem os pés brancos como lírios e brinca de olhá-los contra o fundo escuro da rua lá embaixo A sensação de vertigem é única e a delicia Sente o vento da noite de inverno Uma brisa de aço e nicotina
Vuuuuu Há ecos vindo da rua Vuuuuu Clarice tem os pés mergulhados no sons Lembra de uma música que gosta “Como desaparecer completamente” Um violão e uma voz triste “Eu ando através dos muros” Balança os pés Brancos como lírios Pensa em uma balança onde poderia soltar os pés ao largo do movimento “Eu ando através dos sons”
Fixa os olhos num ponto distante Vê fogos de artifício em algum bairro longínquo As luzes sem som são lindas Cores quase neutras de distantes Deseja estar lá Os bairros distantes são repletos de pessoas que nada mistificam da vida Vivem simplesmente Os fogos duram minutos e Clarice os observa Silenciosas luzes mudas do subúrbio
As luzes cessam e os olhos ouvidos poros pele de Clarice são consumidos pela noite É outono e suas lembranças a remetem a uma primavera distante Foi feliz um dia Havia alguém Agora é apenas noite e Clarice se descobre só somente só
Ouve uma voz Estanca Procura e descobre a calçada De novo o quadro da rua e seus pés balançando na escuridão Clarice se delicia com os próprios pés Já não sabe mais o que é a noite os pés os lírios o vento Vuuuuuu A calçada a chama Vuuuuu
“Esta não sou eu” balbucia Lembra de uma voz numa primavera distante Clarice amava ouvir a voz de alguém no início da noite Clarice amava alguém no fim do dia Clarice amava
“Pedro” “Pedro” “Pedro” Três vezes ela repetiu o nome que nunca mais pronunciara Agora era seu coração que a chamava
Vuuuu Ouve a voz da calçada uma vez mais A última vez Pés brancos como lírios

Apenas um mergulho no escuro da noite Vuuuuuu

Anos depois, algumas pessoas que andavam por aquela rua estranhavam aqueles dois lírios entre os vãos das pedras na calçada.

4 comentários:

Anônimo disse...

Quem é a garota de pés de lírio branco?

Anônimo disse...

tô te devendo, né, minhas impressões... teu texto
tô me sentindo uma tola, uma infiel
mas, não te esqueci, e não consegui ler, queria ler de um jeito bem bom, ainda não deu pra ter o tempo que tu mereces
perdoa-me, perdoa-me
beijo

Anônimo disse...

Como se sente Clarice, Clarice sou eu, Clarice é ela Clarice és tu.Da onde tirastes Clarice? De cada moça que entorpece com seus pensamentos tortos de tanto tentar indireitá-los? Sou eu...sou Clarice sem virgúla sem ponto como escreves na tua calma em linhas ansiosas de remetertes talvez a fúria a paixão de Saramago?Quem é Alice?

João Pedro de Andrade disse...

Tenho por política não comentar comentários, mesmo aqueles com uma certa animosidade. Já que só eu posso escrever no blog, então não me dou o direito de usar o espaço dos comentários. Mas, este último comentário me chamou a atenção, de tão bonito. Assim, não quero respondê-lo (as respostas são inúmeras), mas simplesmente dizer: obrigado.