O retrato do artista quando sombra nada revela dos seus intentos. Nada revela dos seus mistérios, muito menos de seus medos.
O retrato do artista quando sombra revela apenas aquilo que, no artista, se impõe e salta à vista: que sua arte não se presta à cena, pois obscena; não se presta à lida, pois inválida; não se presta ao verso, pois in-verso; não se presta ao canto, pois silêncio. Que sua arte não se presta ao tempo, pois in-vento.
O retrato do artista quando sombra revela apenas o que sua arte remembra, a que sua arte faz sombra. Assombra.
O retrato do artista quando sombra revela o vão esforço da vista ante a impunidade da sombra. Sossombra.
O retrato do artista quando sombra revela, porém, a luz que salta e inverte a sombra, vertendo-se em nuvem. Penumbra
O retrato do artista quando sombra revela a luz que dá à arte a sua magia para além de toda sombra e esquecimento.
Alumbramento.
2 comentários:
Que saudade disso aqui!
escreve, escreve, escreve mais!!!!
Escritura é bolha-de-sabão: pertence ao escrevente por fugidios momentos, depois vive de si, só. Quando você vai deixar suas bolhas-de-sabão tentarem a grande viagem, João ? O mérito da escritura, se há algum, é das bolhas, não seu. Teu desejo de afago, de aplausos do leitor, parece tão descomunal, que relega as bolhas à sombra... As estrelas do show são elas, não você, João. O desejo do escrevente por sua escritura, modula-se em desejo da escritura por seu leitor. Quando você vai se cansar de desejar o leitor, João ? Sem o seu desejo a insuflar-las, as bolhas-de-sabão tornam-se áridas, precisos artefatos mecânicos de linguagem, bem acabados, sombras penadas, que a nada, nem ninguém desejam.
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