segunda-feira, junho 25, 2007

Variações Sobre Um Tema

Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons...

De uma canção

Foi um início romântico, como devem ser os amores. Conheceram-se, encantaram-se, trocaram confidências, expuseram medos. Passaram-se alguns anos e o amor transformou-se em convivência e a convivência em impaciência e a impaciência em desespero. Em algum momento, o amor que havia entre os dois transfigurou-se em ausência de palavras. Não havia ofensas, não havia nada, simplesmente a noite. E como a noite, aos olhos dos dois, se confundia com o aquilo mais temiam – a morte – os dois amorosamente se separaram.

Juliana ainda chora a morte de André, num acidente de carro. Estavam noivos há três meses e namoravam havia anos. De tudo que sente falta, o que mais acomete Juliana é o café que o noivo preparava sempre que dormiam juntos. Tomavam café em silêncio, aproveitando de forma terna a luz da manhã que invadia a cozinha. Juliana lembra deste silêncio como se fosse uma tortura: André de pé diante do fogão, o barulho das xícaras, a bebida sendo servida, os olhares cúmplices. Para ela, este era o momento de maior intimidade entre os dois, uma intimidade feito de silêncio, ternura e um café delicioso.





Andréa andava a esmo pelo centro da cidade, pensando se ainda continuaria casada ou não. Há meses sua relação entrara numa ausência de afetos, como se ela e o marido não mais se encontrassem. Não havia culpados: simplesmente os dois estavam longe um do outro. Encontrou, numa rua, por um acaso, Paulo, sua primeira paixão na vida – quando os dois ainda eram adolescentes – e a quem não via há muito tempo. Foram a um café, onde conversaram relembrando do tempo em que conviviam. Durante a conversa, Andréa lembrou o quanto fora apaixonada por Paulo e também das esperanças que, quando jovem, depositava no amor. De súbito, levantou-se, pediu desculpas e correu para casa. Resolveu tentar mais uma vez.

Teresa separou-se há oito anos e sempre que pode maldiz o nome do ex-marido. Há oito anos todas as coisas ao seu redor ainda estão impregnadas com a presença dele. Há oito anos Teresa dorme com dois travesseiros, como se esperasse a volta de alguém. Há oito anos ela ainda faz vários pequenos rituais da época em que estava casada. Inclusive, no dia 17 de outubro, religiosamente, sempre vai ao mesmo restaurante onde ele a pediu em casamento. Simplesmente para maldizer o nome do ex-marido.

Durante meses, Marcos escutava em sua memória as palavras proferidas naquela noite chuvosa: “Eu vou embora, Marcos. Não dá mais pra mim”. E lembrava, de forma vívida, de tudo naquela noite: os olhos tristes de Mariana, a mala sendo fechada, o grito preso na garganta, o vazio da casa quando ela se foi. Apesar da profunda tristeza em que quedava junto destas lembranças, Marcos nunca chorava, como se sempre faltasse uma ponte para as lágrimas. Uma noite, porém, muito tempo depois, ao sentar-se à mesa para jantar, sozinho, Marcos reparou que estava chovendo. Nesse momento, chorou copiosamente feito um menino.

Nenhum comentário: